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Série: Sobrevivi à Pós-graduação – ebook!

Dicas rápidas para sobreviver à pós-graduação - ebook

Finalmente no recesso de final de ano consegui realizar algo que queria há muito tempo. Eu havia escrito uma série de dicas sobre pós-graduação quando terminei o doutorado em 2015 e queria transformar em um guia ou ebook. O tempo passou, e com outros compromissos essa ideia caiu no esquecimento.

Depois de um problema com a tela do computador em 2020, enquanto conferia o backup achei novamente esses textos que não me lembrava mais que tinha escrito. Recuperei os textos e postei 7 dicas aqui pelo blog nessa série “sobrevivi à pós-graduação”. Atualizei o que achei necessário e adicionei algumas fotos minhas mais recentes para ilustrar.

Para quem gostou dos textos postados por aqui, eu finalmente concluí o plano inicial e transformei todas as 19 dicas em um ebook. São conselhos valiosos que gostaria que tivessem me contado antes! Disponível para download gratuito para quem usa o kindle unlimited ou por apenas R$ 29,90!

E não precisa ter o kindle para ler. Da para ler pelo navegador mesmo ou pelo aplicativo do kindle para celular e tablet 😉

Vou continuar postando outras dicas e tutoriais aqui no blog mas os outros textos dessa série são exclusivos do ebook.

Espero que seja útil! Deixem opiniões por aqui ou lá no site.

Calibrando Modelos Matemáticos – Parte 2 – Exemplo de um Modelo Epidemiológico

Continuação do post anterior que comecei a escrever como um tutorial para os meus alunos que iniciam projetos de iniciação científica e ainda não estão familiarizados com esse processo de calibrar os parâmetros de modelos matemáticos. Caso não tenha lido volte uma casa (leia o post anterior aqui) e depois continue.

Para dar continuidade, vamos pegar um exemplo simples de problema considerando apenas a variação no tempo. Vamos supor que existe um determinado fenômeno que temos interesse em estudar. O primeiro passo é identificar se já existe um modelo matemático na literatura que represente esse fenômeno.

Um exemplo interessante e suficientemente simples é o modelo matemático utilizado para representar epidemias que foi proposto por Kermack e MacEndrick chamado SIR (talvez você tenha visto uma variação dele sendo usada para previsões durante a pandemia Covid-19). As letras S, I e R significam respectivamente:

Suscetíveis

Infectados

Recuperados

Esse modelo representa, portanto, três populações de indivíduos e suas dinâmicas variando com relação ao tempo. Para entender o modelo, vamos pensar que inicialmente, quando não existe ainda a epidemia e surge um novo agente, todas as pessoas podem ser suscetíveis a se contaminar. As pessoas se tornam infectadas ao entrarem em contato com esse determinado agente. Com o passar do tempo, vamos supor que os indivíduos infectados se recuperam. (Existem variações desse modelo para considerar outros tipos de epidemias em que a pessoa possa ter um tempo de incubação, pode não se recuperar etc. Mas vamos considerar apenas essa 3 populações para simplificar o exemplo).

Para chegar nas equações do modelo, vamos precisar de um termo que representa a taxa em que os indivíduos se tornam infectados: um parâmetro (beta) multiplicado a variável S que representa a velocidade em que um individuo deixa de ser suscetível e passa a ser infectado e essa taxa é proporcional ao valor da população S em determinado momento. E com isso a população S depende do tempo, o que representamos como S(t).

beta * S(t)

Como esta quantidade de indivíduos está “saindo” de uma população e “aparecendo” em outra, esse termo aparece com um sinal negativo (subtraindo) na equação dos Suscetíveis e o mesmo termo aparece com sinal positivo (somando) na equação dos Infectados. A notação dX/dt é adotada para representar equações diferenciais em que uma variável X(t) depende do tempo.

dS/dt = – beta * S(t) // equação dos Suscetíveis

dI/dt = + beta * S(t) // equação dos Infectados

Considerando apenas essas duas equações, se escolhemos valores para S(0) e I(0), que significa escolher as condições iniciais no tempo igual a zero, podemos resolver esse sistema. Simplificando bastante, da pra imaginar que a população de Suscetíveis vai sempre diminuir e a população de Infectados vai sempre aumentar, certo? Consegue imaginar isso? Olha o gráfico abaixo:

Bom, mas o indivíduo infectado pode se recuperar também né? Isso ocorre em uma determinada velocidade e é representado por outro termo em que um parâmetro diferente (gamma) é multiplicado a variável I (infectados) e aparece com sinal negativo na equação de Infectados e sinal positivo na equação R (recuperados), representando que a taxa de recuperação é proporcional, ou depende da quantidade de pessoas infectadas. Aí finalmente chegamos ao modelo SIR:

dS/dt = – beta * S(t)// equação dos Suscetíveis
dI/dt = + beta * S(t) – gamma * I(t)// equação dos Infectados
dR/dt = + gamma * I(t)// equação dos Recuperados
Modelo Epidemiologico – SIR

Esse é o modelo epidemiológico mais simplificado e usaremos esse para fins didáticos. Consideraremos apenas as três variáveis (S, I e R) e apenas dois parâmetros (beta e gamma).

Para utilizar esse modelo para representar uma epidemia precisamos saber qual a população inicial de indivíduos suscetíveis, infectados e recuperados, o que chamamos de “condição inicial”. E precisamos saber também quais são as taxas de infecção e recuperação.

Vamos supor que temos as seguintes condições iniciais (valor das variáveis no início da simulação, no tempo igual a zero) para cada variável do modelo:

S(0) = 10000 // população de 10000 indivíduos que podem se contaminar

I(0) = 0 // ninguém foi infectado

R(0) = 0 // como não tem ninguém infectado, também não tem ninguém recuperado ainda

E vamos supor também os seguintes valores para os parâmetros:

beta = 0.1 (taxa de infecção)

gamma = 0.01 (taxa de recuperação)

Com isso, precisamos ainda definir qual o algoritmo numérico que será utilizado para resolver o sistema de 3 equações, qual o passo de tempo que utilizaremos e quanto tempo de simulação desejamos representar. Algumas horas? 1 semana? 1 mês? 6 meses? etc.

Aqui vou assumir que quem está lendo já entende alguma coisa sobre algoritmos numéricos e vamos utilizar a função de integração solve_ivp() da biblioteca scipy.integrate (lembrando que estamos usando a linguagem de programação Python).

Uma observação antes de continuar é que passos de tempo menores permitem uma melhor aproximação do resultado. Imagine que estamos avançando em direção a uma solução. Se dermos passos muito grandes e por algum motivo erramos um pouco a direção, fica difícil retomar o caminho sem dar um salto grande para corrigir. Mas se estamos caminhando dando passos bem pequenos, podemos fazer ajustes na trajetória sem precisar dar grandes saltos de forma que quem esta olhando de fora talvez nem perceba que chegamos a sair ligeiramente da rota correta. No caso da função solve_ivp() ela utiliza como padrão o método Runge-Kutta e o passo de tempo é determinado de acordo com o método.

Vamos supor que simularemos o que acontece no período de 100 dias, e que queremos dar passos de um dia. Nesse caso, calcularemos um valor para cada dia a partir da resolução do sistema considerando as condições iniciais acima (link para o código-fonte no final da postagem). O gráfico fica assim:

Talvez tenha visto gráficos parecidos com esse durante a pandemia… a linha laranja está representando os infectados e durante a pandemia modelos matemáticos semelhantes a esse foram bastante utilizados para prever os picos e propor soluções para diminuir ou “achatar” essa curva. Mais a frente vou deixar um link para o código no Google Colab para que possa criar uma copia e alterar os parâmetros e fazer novas simulações. Que mudanças no modelo fazem achatar a curva?

Nesse post vimos um exemplo de sistema de equações diferenciais e um exemplo de resolução desse sistema. Esse modelo representa as dinâmicas de como uma doença infecciosa se espalha. Mas como sabemos quais valores de parâmetros devemos utilizar no modelo? Esse é o assunto do próximo post.

Acesse aqui o código-fonte utilizado nesse exemplo.

Caso tenha dúvidas ou sugestões pode deixar um comentário!

Até o próximo post! 🙂

Calibrando modelos matemáticos de equações diferenciais – Parte 1 – motivação

Comecei a escrever esse post pensando em fazer um tutorial para os meus alunos que iniciam projetos de iniciação científica e ainda não estão familiarizados com esse processo de calibrar os parâmetros de modelos matemáticos. Mas daí pensei em deixar público aqui no blog pois não encontrei outro semelhante em português. Então fica um resumo para qualquer pessoa que começa a trabalhar com modelos matemáticos de equações diferenciais e precisa calibrar o modelo para representar dados experimentais.

Esse primeiro post faz uma introdução ao uso de modelos matemáticos e a um exemplo de problema a ser resolvido. Se quiser ir direto para a parte de calibrar, pule para o post (ainda não postei atualizo em breve).

A linguagem de programação escolhida para o tutorial é o Python 3 por ser a que tenho mais utilizado com meus alunos no momento por ter curva de aprendizado suave e oferecer bibliotecas que simplificam o processo.

Dito isso, vamos começar pelo começo. Vamos supor que temos um determinado experimento ou fenômeno observado durante uma semana que gerou um conjunto de dados que foram medidos uma vez ao dia. Daí temos por exemplo o seguinte conjunto (array/vetor) com um valor representando cada dia:

Conjunto tempo (dias):

dias = [0 1 2 3 4 5 6]

Conjunto com os resultados (em uma determinada unidade qualquer) para cada dia:

valores = [1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6]

Observando esses dados podemos pensar em uma função simples que representa esses valores que estão crescendo monotonicamente. Uma equação da reta seria suficiente para representar esse conjunto de dados. No gráfico abaixo estamos plotando os pontos gerados para cada dia (eixo horizontal) e cada valor obtido (eixo vertical). E também uma reta que passa por todos esses pontos.

Considerando o primeiro e o segundo ponto podemos calcular o coeficiente angular dessa reta:

m = y1 – y0 / x1 – x0

= 1.1 – 1 / 1 – 0

= 0.1

Feito isso, escolhemos por exemplo o primeiro ponto e substituímos na equação:

y – y0 = m (x – x0)

y – 1.0 = 0.1 (x – 0)

y = 0.1 x + 1 <— essa é a equação para calcular os valores de y (na unidade desejada) a partir dos valores de x (o tempo em dias nesse exemplo). Se quisermos prever o que vai acontecer no dia 30 basta substituir o x por 30 nessa equação:

y = 0.1 (30) + 1

y = 4

Visualmente, se aplicarmos a equação para os pontos entre 0 e 30 temos a seguinte reta:

Esse exemplo serve apenas para demonstrar que é possível encontrar uma equação que represente um conjunto de dados e nos permita fazer previsões. Caso tudo se mantenha da mesma forma podemos prever os resultados dos experimentos para quaisquer dias.

Seria maravilhoso se todos os resultados de experimentos se comportassem como uma simples reta. Mas, frequentemente, estamos interessados em fenômenos mais complexos em que equações da reta ou polinômios não são suficientes para representar. Podemos precisar de outros tipos de modelos matemáticos para representar, por exemplo, as dinâmicas de interações entre células e moléculas do sistema imunológico (que é minha area de maior interesse e experiência nos últimos anos) ou como uma doença se espalha entre as pessoas? Ou como prever quando um osso vai quebrar? Para estudar esses comportamentos precisamos representar as concentrações dessas células, moléculas ou indivíduos ao longo do tempo e em alguns casos, podemos estudar também dinâmicas em mais de uma dimensão, quando precisamos também identificar como as células (ou as pessoas) se espalham pelo espaço.

Esse será o assunto do próximo post! Veremos um exemplo de uso de equações diferenciais para representar uma epidemia.

Material de apoio: acesse aqui o colab com exemplos de como gerar os gráficos do post usando Python.

Esse evento/revista é real ou predatório?

Tenho certeza que todos os meus colegas pesquisadores já receberam vários e-mails de convites para publicar trabalho em uma determinada revista ou apresentar seus trabalhos já publicados em algum evento científica que lendo com atenção ficava claro que se tratava de uma abordagem predatória.

Recentemente, eu recebi um convite que não mencionava taxa de inscrição e, eu realmente acreditei que era um convite para apresentar em uma conferência (como palestrante convidada). Mas após enviar uma resposta pedindo maiores detalhes já veio a resposta que era bem simples, bastava enviar um resumo e pagar a módica taxa de inscrição que passava de $800 (bem mais de R$ 4.000 considerando conversão de Junho/2022) que eu poderia apresentar meu trabalho. Ou seja, não era um convite para apresentar, mas um convite para pagar a inscrição. A forma que foi escrita a mensagem foi bem duvidosa, dando margem a interpretação.

Na prática, revistas de qualidade que oferecem revisão por pares com alto fator de impacto não convidam ninguém pois já há uma boa procura por elas. Todos querem publicar nessas revistas e as taxas de aceite costumam ser baixas. A revista Journal of Theoretical Biology aceita apenas 20% dos trabalhos que recebe para serem publicados1, a Nature aceita apenas em torno de 8%2. Dado esse cenário, já é para desconfiar quando uma revista envia e-mail convidando a enviar trabalho para ser publicado. Geralmente o convite é seguido da fatura a ser paga.

A mesma coisa acontece com os eventos científicos, boas conferências / congressos / simpósios etc. costumam divulgar com antecedência as datas para submeter os trabalhos, tem um calendário que geralmente permite as pessoas que enviaram seus trabalhos tenham conhecimento se o trabalho foi aceito pelo comitê científico para ser apresentado, antes de se registrar para participar do evento pagando a taxa de inscrição. De forma geral, os eventos científicos possuem sim taxas para apresentação de trabalhos pois oferecem também vários serviços durante a realização do evento. E essas taxas costumam ser pagas utilizando verba destinada a esse tipo de custo previsto em projetos de pesquisa submetidos a agencias de fomento e dos programas de pós-graduação (cada vez mais limitados com o número de cortes). Mas isso é sempre claro desde o início em eventos sérios.

O que me levou a escrever esse texto foi a importância de divulgarmos esse tipo de informação para jovens pesquisadores e agirmos efetivamente para limitar esse tipo de comunicação predatória. Principalmente em tempos atuais em que os pesquisadores são melhores avaliados pela quantidade de publicações do que pelo impacto da sua pesquisa.

Um trabalho publicado em 2021 por Mckenzie et al3, avaliou a caixa de entrada de um cirurgião por 6 meses. De um total de 1905 emails, 608 foram identificados como possíveis email fraudulentos, dos quais 46.9% eram convites para enviar um resumo, 34.7% para apresentar em uma conferência, 9.2% para participar de uma conferencia, 4.1% para fazer parte de corpo editorial, 4.1% enviar manuscrito a uma revista, 0.7% para contribuir para um eBook e 0.3% para revisar manuscrito. Quase todos os convites predatórios vinham de jornais (55.1%) ou conferencias falsas (43.9%).

Custo Alto

Considerando ainda o exemplo do artigo mencionado, o departamento de TI estimou que todos os meses, 21 milhões dos 31 milhões de emails que são enviados para os mais de 120.000 usuários são bloqueados pelo firewall. Os dados avaliados no estudo sugerem que dos 10 milhões que de fato passam pelo firewall pelo menos 1/3 são phishing.

Considerando uma organização com 100.000 usuários, que recebem $100.000/ ano, e recebendo 6 emails de spam por dia, o custo em termos de armazenamento, gerenciamento, perda de produtividade, foi estimado para mais de $16 milhões/ano.

O que podemos fazer?

Algumas observações que o estudo apresenta para identificar os emails “fakes” são a presença da palavra “greetings” e os erros de gramática. O alerta desse texto é para que toda vez que receber algum email com convite para enviar resumo, publicar artigo ou apresentar em uma conferência, que fique com um pé atrás. Outra dica do artigo mencionado acima é que os firewalls já deveriam bloquear os nomes de eventos e revistas predatórios contidos na lista de Beall’s e na lista da CalTech Library.


Também recebe muito spam/phishing e cia. por aí? Se tiver mais informações ou caso tenha surgido alguma dúvida deixe um comentário. Se achou útil compartilhe!


Referências:

[1] Journal of Theoretical Biology. Disponível em: https://www.journals.elsevier.com/journal-of-theoretical-biology

[2] Revista Nature. Disponível em: https://www.nature.com/nature/for-authors/editorial-criteria-and-processes

[3] McKenzie M, Nickerson D, Ball CG. Predatory publishing solicitation: a review of a single surgeon’s inbox and implications for information technology resources at an organizational level. Can J Surg. 2021;64(3):E351-E357. Published 2021 Jun 9. doi:10.1503/cjs.003020

Sobre Mulheres na Tecnologia

Tem bastante tempo que não escrevo nada e aproveitei as férias para colocar em dias certas coisas que acabam deixando de ser prioridade na rotina. Escrever aqui é um hobby, é algo que gosto e levo a sério mas sou adepta do slow blogging desde antes de saber que tinha esse nome hahahaha escrevo quando tenho vontade de compartilhar alguma coisa que achei interessante e não tenho compromisso de postar periodicamente.

Dessa vez gostaria de compartilhar que participei de uma reportagem de um telejornal da região que moro atualmente para falar sobre as mulheres na área de tecnologia. Eu já havia recebido convites em outros momentos para entrevistas mas recuso a maioria deles, não aceitei nenhum ao vivo ainda porque ainda acredito que falo muito e de forma nada linear 😅 Enfim, aceitei esse convite sem pensar duas vezes por conta do tema. E porque era uma gravação. A minha intenção é que essa reportagem sobre mulheres na área seja mais uma forma de representatividade. Precisamos quebrar os estereótipos e trazer mais diversidade.

Assista a reportagem clicando aqui

Foi muito legal ver alunas e ex-alunas falando sobre a experiência delas na área, e a Luciana Bolan Frigo do Meninas Digitais reforçando que tem muito espaço para mulheres ainda! Espero ainda falar muito sobre esse assunto e incentivar mais meninas a escolherem as STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

Se quiser ler mais sobre o assunto recomendo esse artigo da Carolina Marins: “Porque as mulheres desapareceram dos cursos de Computação?

Até a próxima!

Programação e a Rotina de Mulheres Programadoras

No dia 03/03 fiz uma apresentação sobre programação e rotina de Mulheres Programadoras na III Semana das Mulheres promovida pelo IEEE WIE da UFJF. Fico muito feliz com esses convites pois acredito que é importante mostrar que programação é para todos. Não é preciso ser nerd e muito menos gênio em matemática para programar. Como em qualquer área do conhecimento basta ter vontade e dedicação.

Quero acreditar que o cenário atual para as mulheres programadoras é melhor do que vimos nas últimas décadas e gostaria de incentivar mais meninas e mulheres a estudarem programação pois é uma carreira que abre muitas portas. A tendência é que as oportunidades nas áreas tecnologicas só aumentem.

Tive problemas de conexão e a apresentação foi transmitida ao vivo no canal IEEE WIE UFJF com alguns minutos de atraso. Segue o link para o video (avance os primeiros 11 minutos).

Apresentaçao na III Semana das Mulheres IEEE WIE UFJF. Abra o video no youtube: https://youtu.be/lNzJbIBeNJY?t=660

Pode conferir também os slides utilizados a seguir:

Esse tema te interessa? Deixe um comentário e compartilhe!

Como é a carreira acadêmica na Itália?

Verona

Após passar um ano na Itália fazendo um pós-doutorado algumas pessoas me perguntaram pessoalmente ou pelas redes sociais como é a carreira acadêmica na Itália.

Ouvi também várias vezes perguntas do tipo: “porque você não fica na Itália? O professor supervisor do pós-doutorado me perguntou pelo menos umas três vezes se eu tinha certeza que não queria continuar por lá rs… enfim! Vou explicar um pouco como funciona a carreira acadêmica por lá e porque não fui de vez. Colegas, podem ficar tranquilos 😉

Antes de falar sobre a Itália vou situar primeiro como é a realidade do Brasil – deixando claro que falo da realidade que eu conheço! Claro que podem ter outras oportunidades que não comentei e para isso peço que deixem comentários!

Atualmente, de forma bastante resumida, após realizar um curso superior, existe a opção de realizar pesquisa através da formação de Mestrado seguido de Doutorado. Durante essa formação podem existir contratos no formato de bolsa de estudos que auxiliam a realização de pesquisa que requer muitas horas de dedicação para ser completada. Durante a graduação existe também possibilidade de participar de programas de iniciação científica com bolsa ou como voluntário. Algumas empresas também fazem parcerias com as Universidades para financiar pesquisas mas atualmente a maior parte do financiamento é público. O cargo de pesquisador não é muito difundido mas existem centros de pesquisa que contratam pesquisadores de diversas areas. De forma geral, a maior parte da pesquisa no Brasil é feita por Professores e estudantes dentro de Universidades e Institutos conforme o link abaixo:

Na Itália existem também as bolsas para a realização da pesquisa durante o doutorado mas já existe uma diferença inicial com relação ao Mestrado. Por lá, o mestrado é muitas vezes considerado parte da formação e muitos fazem a “laurea trienale” que são 3 anos de formação básica que já garante um título. Correspondente no Brasil aos cursos de ciclo básico como formação em “Ciências Exatas”, por exemplo. Mas como é pouco tempo, de forma geral a maioria dos alunos italianos fazem também a “laurea magistrale” que são mais 2 anos de pesquisa, provas e escrita de uma tese. Então por lá praticamente todo mundo tem mestrado.

Após ter feito um doutorado na Itália, existe a possibilidade de trabalho como Ricercatore A (pesquisador A). A vaga é aberta pela própria Universidade e a pessoa interessada se inscreve e participa do processo seletivo. Esse tipo de vaga geralmente dura 3 anos podendo ser prorrogado por mais 2. E existe um limite de tempo em que uma pessoa pode trabalhar como Ricercatore A, que são 9 anos. É comum uma pessoa terminar os 5 anos e passar em outra seleção do mesmo tipo. Esse pesquisador é obrigado a ensinar uma disciplina por ano (total de 90 créditos por ano se nao me engano). Que sonho para jovens professores/pesquisadores no Brasil que ensinam muito mais horas que isso por semestre…

Depois disso, a continuação da área acadêmica por lá implica buscar uma vaga como Ricercatore B (pesquisador B), que também tem duração de 3 anos e também inclui um determinado número de créditos de ensino que é um pouco maior do que o pesquisador A (algo em torno de 120 créditos por ano que continua sendo um sonho para quem quer trabalhar com pesquisa por aqui). A vaga também é aberta pela própria Universidade, no entanto, geralmente para poder se inscrever, o pesquisador deve primeiro passar por uma avaliação nacional chamada “Abilitazione Scientifica Nazionale“. Não é obrigatório que já tenha passado para se inscrever, mas na prática só é chamado para Ricercatore B quem já passou nesse exame nacional. Pois, nessa vaga depois de 3 anos, de acordo com o desempenho do pesquisador, este pode ser chamado para fazer parte do quadro permanente como Professor da Universidade adquirindo estabilidade. Pode demorar muitos anos para chegar a ter estabilidade se pensar que sao no mínimo 3 como pesquisador A e 3 como B e na prática acabam ficando uns 5 anos como A podendo passar em outra seleção ainda como A até conseguir aprovação na prova nacional para pleitear a B…

Sobre a “Abilitazione“, é uma avaliação feita por área e o pesquisador pode se inscrever para ser avaliado em quantas áreas quiser. Cada área tem seus critérios definidos e para ser avaliado deve alcançar 2 dos 3 requisitos principais que são basicamente métricas de publicações: número de publicações em revistas científicas da área escolhida, número de citações e fator h. O valor necessário para cada uma dessas 3 métricas é definido por área então é importante conferir antes de se inscrever.

Sobre as perguntas iniciais, eu nao fui com intenção de me mudar pois já tenho estabilidade no Brasil por ter sido aprovada em concurso público como professora e acredito que tenho muito a contribuir por aqui 🇧🇷 E, por isso, apesar de ter amado morar na Itália 💚❤️🤍 🍕 não trocaria a estabilidade que já alcancei nesse momento para seguir todo o percurso que expliquei nesse texto.

Acredito que essas informações podem ajudar quem está começando a carreira e tem vontade de morar na Itália. Pode ser que alguns detalhes informados nesse texto mudem com o tempo então se estiver lendo muito tempo depois do que foi escrito melhor conferir! Cada país tem suas regras então se tem vontade de trabalhar com pesquisa em outro país que não seja a Itália é importante conhecer para se preparar de acordo. É totalmente possível competir com quem já está lá desde que também conheça as regras.

Referências:

[1] https://www.deviante.com.br/noticias/quem-faz-pesquisa-no-brasil/
[2] https://abilitazione.miur.it/public/index.php

Dica: Gerenciar Referências

A primeira etapa de qualquer pesquisa científica é a revisão da literatura. Essa revisão permite identificar qual o estado da arte do problema sobre o qual tem interesse e serve para compreender o que já foi feito na tentativa de responder a uma pergunta científica específica. Muitas vezes a própria pergunta surge após a revisão de literatura identificar que existe uma questão em aberto que ainda não foi respondida.

Feita essa motivação, o objetivo desse post é apresentar minha experiência com uma ferramenta para auxiliar no controle das referências que já leu / está lendo / pretende ler, para ajudar a identificar quais são mais relevantes etc. Esse processo também pode ser conhecido como “fichamento”. Se ainda não utiliza uma ferramenta para auxiliar a gerenciar as referências da monografia/dissertação/tese, esse post apresenta uma opção que tenho usado ultimamente.

Já utilizei outros formatos, desde apenas colocar as “fichas” em um editor de texto mesmo, ou ferramentas específicas como o JabRef. Existem muitos outros que deixo o link pois pode ser que prefira outro formato: EndNote, Mendeley, Citeulike, RefBase, RefWorks, Reference Manager.

Há algum tempo venho utilizando o Zotero e tem me ajudado muito a organizar melhor as referências. Tenho gostado bastante da possibilidade de organizar referências de vários projetos distintos compartilhados com grupos diversos.

Uma funcionalidade que acho super útil é o plugin para o navegador que permite fazer download de qualquer referência direto para a biblioteca. É possível adicionar as referências manualmente também mas com a existência desse plugin raramente preciso fazer isso. Basta clicar em um botão que a ferramenta já importa todas os dados de autores, revista, data, doi etc.

Adicionar arquivo ao Zotero.
Adicionar arquivo PDF ao Zotero. Fonte.

É possível também inserir uma referência dentro do Zotero através de um identificador:

Adicionar ao Zotero por identificador (doi, isbn,pmid). Fonte

A ferramenta possibilita ainda escrever anotações sobre cada referência, o que recomendo fortemente pois depois de um tempo não lembramos todos os pontos importantes. Existem ainda outros plugins que podem ser adicionados como, por exemplo, um que oferece uma contagem de citações e quantos suportam ou disputam cada referência (scite).

Exemplo de visualização do Zotero com uma coluna que mostra se tem anotação adicionada (parece um post-it amarelo) e colunas que mostram contagem de referências que suportam, disputam e que mencionam cada uma das referências na lista. Fonte: da autora.

A biblioteca inteira pode ser exportada em vários formatos conforme mostrado na imagem abaixo incluindo o formato bibTeX que é perfeito para quem usa o LaTeX para escrever os textos acadêmicos.

Formatos para exportação da biblioteca de referências. Fonte: da autora.

Quem usa Word e OpenOffice também tem o trabalho de citações facilitado ao usar o plugin do Zotero para esses editores. Basta usar o comando “inserir citação” que abre uma busca para a referência salva na sua base de referências do Zotero. E ele já inclui a citação no local selecionado e adiciona a referência completa no final do texto.

Ps: Se tiver interesse clique aqui para ver a lista completa de plugins do Zotero.

Ps 2: Eu sou fã do LaTeX e tenho vários posts nesse blog sobre os comandos e como usar. É só usar a busca aqui do blog ou clicar na categoria LaTeX no menu lateral.

Este post não tinha intenção de ser um tutorial mas uma fonte de informações sobre gerenciamento de referências. Caso esteja buscando um tutorial indico:

Qualquer dúvida ou sugestão deixe um comentário!

Serie: Sobrevivi à pós-graduação – Aprenda a pedir ajuda

Via Indipendenza em Bologna iluminada

Talvez você seja uma pessoa aberta a pedir ajuda sempre que se vê estagnado em alguma coisa e entende que toda pesquisa é feita de troca de informação. Essa dica é importante para o outro tipo de pessoa. Aquela que acha que tem que saber tudo e que ter dúvidas e fazer perguntas pode demonstrar uma fraqueza, que te faz menor ou inferior de alguma forma. Se você se identifica nesse momento com a segunda descrição continue lendo.

A primeira coisa que gostaria de reforçar nesse texto é que perguntar e pedir ajuda demonstra que você se importa e que está buscando aprender! Não estou falando para pedir ajuda a cada vírgula, mas para aqueles momentos que já tentou resolver um problema de mais de uma forma e continua tendo um problema… Nesses momentos fazer parte de um grupo de pesquisa ou frequentar um laboratório ajuda bastante. Pois muitas vezes o colega que está sentado no computador ao lado já passou por essa situação e poderá te ajudar. Se não fizer parte de um grupo, pode recorrer a comunidades online e escrever aos seus professores orientadores/supervisores.

Não espere passar o tempo para pedir ajuda. Aproveite todos os momentos da pós-graduação enquanto é considerado um período de formação para aprender. Afinal de contas, se já soubesse todas as respostas esse trabalho não seria necessário. É importante lembrar que atividades de pesquisa geralmente lidam com a fronteira do conhecimento e pode acontecer de ter que lidar com perguntas que ainda não tem uma resposta mesmo. Não se cobre excessivamente : )

Sempre que precisar, peça ajuda.

Se está lendo esse livro antes da pós-graduação: Perguntar e pedir ajuda demonstra que tem interesse. Vale para qualquer coisa que queira aprender.

Se está lendo esse livro durante a pós-graduação: Lembre-se que perguntar e pedir ajuda demonstra que tem interesse. Ah OK, exagerei no CTRL+C (copiar), CTRL+V (colar) mas espero que tenha entendido a ideia. Peça ajuda sempre que estiver agarrado em algum problema.

Se está lendo depois: Você se sentiu julgado por pedir ajuda? Você julgou alguém que te procurou para pedir ajuda?


Os textos dessa série e várias outras dicas estão compilados em um livro (Dicas Rápidas para Sobreviver à pós-graduação) disponível de forma gratuita para quem assina o kindle unlimited ou por R$29,90. Não precisa ter kindle para ler! É possível ler do celular, outro tablet qualquer ou do computador.


Se achou util compartilhe!

Bom 2021 para todos!

Série: Sobrevivi à Pós-graduação – Tire férias!

letra da musica futura de Lucio Dalla

Escolhi essa dica, que acredito ser uma das mais importantes, para ser a última dessa série que compartilho em 2020. No post anterior falamos sobre ainda ser visto como estudante e, o fato é que a pós-graduação apesar de também ser uma etapa da vida profissional não é reconhecida como trabalho e sim, como parte da formação. E com isso, não contempla os direitos trabalhistas. 

Durante a escola e o período de graduação, fomos condicionados a seguir um calendário acadêmico baseado no período letivo, com aulas e, o período sem aulas naturalmente se tornava período de férias. 

Durante a pós-graduação não é bem assim. A ausência de aulas não implica naturalmente em férias. Depende das atividades que os professores passaram para serem entregues. Depende se já está trabalhando na dissertação/tese e, com isso sempre tem trabalho a ser feito. 

Infelizmente, existe uma cultura que valoriza trabalho após o horário comercial e durante os finais de semana. Que pessoalmente não recomendo, mas isso é assunto para outro tópico. 

Aqui, nesse momento, gostaria de dizer: combine férias com seu orientador. Já se programe desde o início. Veja quais são os períodos mais críticos de deadlines de entregas de artigos para conferências e de trabalhos para disciplinas e agende uma semana inteira de folga depois dessas entregas para descansar a mente. 

Nosso trabalho é muito mental e, precisamos estar com a mente descansada para conseguirmos pensar e ter novas ideias que acrescentam ao que estamos desenvolvendo durante a pesquisa. Se programe e tire férias!


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Boas Festas!

Serie: Sobrevivi a Pós-Graduação – Você não é apenas um estudante

Lateral da catedral de Sao Petronio em Bologna

Apesar de parecer que todos te tratam como se você fosse um estudante, e de poder contar com vantagens como pagar meia entrada em alguns lugares, lembre-se que você é um profissional! Pense em tudo que estudou até chegar à pós-graduação. Mesmo parecendo em alguns momentos que não mudou muita coisa, você já é um profissional formado na área que escolheu como base. A escolha pela pós-graduação te tornará um especialista.

Continuamos tendo que lidar com professores em sala de aula no período que estamos cursando disciplinas. Nesse momento continuamos a ser estudantes. Mas a partir do momento que iniciamos uma atividade de pesquisa com professores orientadores, essa relação é como a de qualquer hierarquia de qualquer empresa. Os professores orientadores são os líderes (nao gosto do termo chefe mas se ajudar a entender essa é a ideia) e somos os funcionários. A pesquisa é uma atividade profissional que requer muita organização, método e prazos.

Será preciso ter bom humor e paciência durante os anos de pós-graduação para ignorar os comentários da família e amigos sobre o fato de não ter um trabalho de verdade. No cenário atual que vivemos as atividades de pesquisa se mostram cada vez mais importantes para o avanço da sociedade. Temos muitos problemas e precisamos de pessoas dispostas a buscar novas respostas. Assim como precisamos de pessoas dispostas a plantar, colher, cuidar da saúde, da economia e de ensinar. Precisamos espalhar mais para a sociedade o porquê nos especializamos e investigamos essas novas soluções. Faça sua parte com paciência cada vez que surgir uma piada. Deixe claro que é um trabalho que te prepara ainda mais para atuar como pesquisador tanto para a área acadêmica quanto para a indústria.

Lembre-se também que o seu comportamento está sendo observado pelos orientadores e poderá ser um fator que te abrirá portas ou não. Busque fazer um trabalho bem feito em qualquer atividade por mais que muitas vezes a pesquisa precise de trabalhos maçantes e repetitivos. Precisamos nos lembrar constantemente do porquê estamos fazendo aquilo e tentar fazer da melhor forma possível. Esse é o nosso trabalho. É parte da nossa formação humana e profissional. Escolher um tema por afinidade e não apenas por retorno financeiro pode ajudar. Leia as outras dicas que já postei por aqui onde comento sobre se apaixonar pelo tema por exemplo.

Se está lendo antes da pós-graduação: se você já é um profissional com uma área de formação, já tem opções de atuação na área sem ter uma pós-graduação. Pesquise os tipos de pós-graduação que existem e,  identifique se você tem o perfil de investigação necessário para uma pós-graduação stricto sensu. Tem interesse em desenvolver pesquisas? Hoje em dia a indústria está absorvendo muitos profissionais com doutorado em áreas em expansão como modelagem matemática e ciência de dados. Caso não se identifique com esse perfil, pode focar em especializações de curta duração tipo lato-sensu e certificações profissionais. Os cursos de pós-graduação lato-sensu geralmente exigem pouca dedicação semanal e permitem realizar outras atividades simultaneamente mas as pós stricto sensu exigem uma dedicação muito grande. É possível conciliar com algumas atividades mas tenha em mente que não é fácil.

Se está lendo durante a pós-graduação: Aproveite a carteirinha de meia entrada. Sei que todos se beneficiam desse momento em que ainda somos vistos como estudantes por estarmos focando em uma capacitação extensa. Mas não perca de vista que já é profissional e que representa o corpo discente da sua  instituição. 

Se está lendo depois: Deve estar com saudades desse tempo da meia entrada. Mantenha contato com os colegas. Infelizmente passamos por momentos de desvalorização da ciência e manter o contato com pessoas que passam pelas mesmas situações e desafios ajuda bastante a manter a saúde mental em dia.


Os textos dessa série e várias outras dicas estão compilados em um livro (Dicas Rápidas para Sobreviver à pós-graduação) disponível de forma gratuita para quem assina o kindle unlimited ou por R$29,90. Não precisa ter kindle para ler! É possível ler do celular, outro tablet qualquer ou do computador.


Se achou util compartilhe!

Boa semana!

Dica LaTeX: Conjunto de Números

Caso precise representar um conjunto de números, como o conjunto dos números Naturais ou conjunto de números Reais por exemplo, basta incluir o pacote:

\usepackage{amssymb}

e usar o comando \mathbb{} que funciona sempre dentro do ambiente matemático. Segue um exemplo:

$\mathbb{N}$

Produz o símbolo:

Use sempre o mesmo comando para outras letras:

   $\mathbb{Z}$ - números inteiros\\
   $\mathbb{N}$ - números naturais\\
   $\mathbb{Q}$ - números racionais\\
   $\mathbb{R}$ - números reais\\
   $\mathbb{C}$ - números complexos

Referências:

[1] Sodre, Ulysses. LATEX para Matemática com o TeXnicCenter. 2006. URL: <http://www.uel.br/projetos/matessencial/superior/pdfs/latexmat.pdf>
[2] (lista de discussão) Símbolos em LaTeX. 2001. URL <https://www.ime.usp.br/~gold/cursos/2001/mac212/lista/msg00011.html>

Série: Sobrevivi à pós-graduação – Acostume-se com metas e prazos

Objetivos

Uma parte importante do trabalho acadêmico é comunicá-lo. Por isso devemos estar preparados a ter sempre prazos para submeter artigos para conferências e revistas científicas e, possivelmente, à preparar relatórios para reuniões com os orientadores.

Ter objetivos claros e utilizar um calendário pode ajudar bastante a se organizar. Seja um calendário de papel, agenda, planner ou calendário virtual. Já escrevi sobre o que me ajuda nesse post.

E, muito importante: não espere que a/o orientador/a te diga tudo o que você tem que fazer. Acredite que são pessoas ocupadas com várias coisas ao mesmo tempo. Você teoricamente, precisa se preocupar “só” com o seu projeto. Tome posse do seu projeto. Pense que enquanto estiver trabalhando nele ele é o “seu” projeto. Conheça e entenda o objetivo do seu projeto e realize as atividades que te ajudem a alcançar esse objetivo. Isso realmente é bastante específico e por isso ficou meio vago aqui.


Tentativa de exemplo da minha área: se preciso ajustar parâmetros de um modelo para representar dados experimentais, já sei que preciso conhecer o tipo de modelo, quais métodos já foram usados para fazer isso, quais são mais indicados para esse tipo de modelo, após definir o método, ou métodos que irei usar, devo programá-los e executá-los. E anotar todas as configurações utilizadas e resultados obtidos de forma a permitir repetição. Você deve saber os passos que precisa executar para o seu projeto. E, conforme aparecerem as dúvidas, procure ajuda do orientador ou colegas que já trabalharam com isso. Sempre existe uma solução.


Provavelmente você foi comunicado sobre os passos esperados nas reuniões iniciais e, caso não tenha anotado, não se lembre etc. pergunte a seu/sua orientador/a quais são os passos e as expectativas de publicação do trabalho que está realizando. E, organize-se de acordo com os prazos.

Se está lendo antes da pós-graduação: prepare-se para aprender a gerenciar a si mesmo e ter que lidar frequentemente com “prazos” para submissão de artigos para conferências e revistas e reuniões.

Se está lendo durante a pós-graduação: se ainda não começou, crie uma rotina separando horários para leituras, desenvolvimento dos experimentos e escrita. Frequentemente busque se informar das melhores revistas e conferências da sua área e acompanhe os cronogramas desses eventos. Prepare relatórios para reuniões no formato de apresentações. Dessa forma quando tiver que preparar apresentações para eventos não precisará começar do zero.

Se está lendo depois: tenho certeza que já está acostumado com metas depois de ter passado por uma pós-graduação. Eu queria ter implementado algumas dessas dicas enquanto ainda era estudante. Muitas coisas aprendi depois. Se acredita que essas informações são úteis compartilhe.


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Série: Sobrevivi à pós-graduação – Permita-se mudar

Esse post faz parte de uma série de textos curtos com dicas pontuais sobre pós-graduação e está relacionado ao que comentei no final do tópico anterior. Espero que seja útil!


Não se prenda nem se sinta escravo de um tema que não te interessa. Mesmo que tenha prometido a um determinado pesquisador que gostaria de trabalhar com aquele assunto. É melhor ter certeza de que continua sendo interessante para você.

Se tiver certeza de que não é possível seguir com esse tema é melhor conversar o quanto antes com seu orientador sobre o assunto. Talvez ele possa te dar sugestões de modificações dentro da mesma área que sejam mais motivadoras para você. Ou talvez seja o caso de trazer outro orientador e outra área. O quanto antes isso for discutido melhor para todos os lados. Ninguém vai sair magoado se o assunto for tratado com respeito, responsabilidade e profissionalismo. Não vai dizer ao seu orientador que eu falei que tudo bem mudar de ideia a qualquer momento! Pense bem. Tenha certeza da sua decisão e converse abertamente.

No mestrado como o tempo é curto acho mais complicado mudar de tema, mas, no doutorado como temos mais tempo durante a pesquisa pode acontecer de surgir uma tese exatamente igual à que propôs no meio da sua pesquisa. Nesse caso terá que alterar o assunto da sua defesa para que não seja exatamente igual e incluir esse trabalho que surgiu na sua pesquisa bibliográfica. Acontece.

Se está lendo antes da pós-graduação: saiba que é possível mudar e não se sinta tão pressionado a saber o tema exato com todos os detalhes antes de começar. 

“Faça o melhor que puder até saber mais e quando souber mais, faça ainda melhor” 

MAYA ANGELOU

Se está lendo durante a pós-graduação: Analisa com cuidado como se sente com relação ao dia a dia. Falta de motivação e falta de vontade de ir para o laboratório podem ser um sinal de que talvez precise alterar algo na sua pesquisa. Talvez seja só um dia estranho. Pode ter outra questão relacionada a rotina que não seja necessariamente o tema. Dê um tempo e não se precipite. Se for preciso alterar converse com seu/s orientador/es antes de pensar em simplesmente sumir! Seja profissional sempre! Não se esqueça que é ok mudar, mas não é ok não dar satisfação.

Se está lendo depois: Se acredita que faltou algum ponto importante deixe um comentário! E se achou útil, compartilhe!


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Série: Sobrevivi à pós-graduação – Apaixone-se pelo tema

Arte de rua por Alessio B

Continuação do primeiro post dessa série que sugeri começar pelo tema.

Motivação é essencial. Em qualquer trabalho não somente na pós-graduação. Tenha certeza que ao escolher o projeto não se guie apenas pelo possível retorno financeiro que a área X terá sobre a Y. Lembre-se que terá que conviver com o assunto que escolher por 2  anos (mestrado) ou 4 anos (doutorado)! Esses prazos consideram a duração dos programas brasileiros. Fora do país os conceitos de pós-graduação são um pouco diferentes.

Quando entrei no mestrado não tinha ideia de um problema específico e contei com a sorte de ser convidada para um projeto quando estava encerrando as disciplinas e um pouco perdida sem saber para que lado ir. No fundo eu sabia que queria aplicar meus conhecimentos de computação à área de saúde, mas ainda não tinha ideia de como seria possível.

O projeto que fiz parte durante o mestrado era aplicado à engenharia civil. Aprendi uma técnica de homogeneização que permitia calcular as propriedades de materiais compósitos a partir das propriedades de cada parte componente utilizando matemática para fazer essa média aproximada. Como não sabia exatamente o que fazer na época, esse projeto foi perfeito. Aprendi muito com meus orientadores: uma engenheira civil e um cientista de computação. Tive trabalhos publicados a partir desse trabalho que me ajudaram a entrar no doutorado e conseguir realizar uma parte do doutorado no exterior. Eu não me considerava exatamente apaixonada pela aplicação em si, mas a técnica que aprendi poderia ser aplicada a outras áreas que não necessariamente a engenharia civil. 

E, na verdade aquele conhecimento foi essencial para realizar um segundo pós-doutorado no exterior, dessa vez na Itália. Dessa vez tive oportunidade de trabalhar no desenvolvimento de uma ferramenta para orquestrar a simulação de modelos multiescala para diagnóstico e prognóstico de tumores sólidos em que foi necessário desenvolver funções de homogeneização.

Quando decidi me inscrever para o doutorado tive oportunidade de mudar a área de aplicação e estudar métodos e técnicas novas o que realmente me motiva bastante. Sempre gostei de aprender coisas novas. No doutorado pesquisei modelos para representar infecções e a resposta do organismo utilizando equações diferenciais. Desenvolvi uma técnica de acoplamento de modelos e pude trabalhar com um modelo de infecção em um grande laboratório de pesquisa no exterior.

Se está lendo antes da pós-graduação: Lembre-se de definir um projeto que te instigue e te motive a buscar uma resposta. Siga um pouco o que sua intuição te diz.

Se está lendo durante a pós-graduação: No início é possível trocar o tema se for algo que esteja mais desgastante do que interessante. Pergunte-se se realmente gosta do assunto que está estudando ou se qualquer coisa parece mais importante do que o que tem que fazer agora. Lembre-se também que no dia a dia todo trabalho tem as partes chatas e, é importante não perder o foco no objetivo final. Lembre-se porque está fazendo isso.

Se está lendo depois: Olhe para trás e concorde comigo que é mais fácil quando escolhe um tema que realmente te motiva a querer saber mais. Se tiver uma opinião diferente deixe um comentário. E se acredita que esse texto pode ser útil a quem está começando, compartilhe!


Os textos dessa série e várias outras dicas estão compilados em um livro (Dicas Rápidas para Sobreviver à pós-graduação) disponível de forma gratuita para quem assina o kindle unlimited ou por R$29,90. Não precisa ter kindle para ler! É possível ler do celular, outro tablet qualquer ou do computador.

Para quem preferir o formato de vídeo, gravei esse baseado no texto do post 🙂

Série: Sobrevivi à pós-graduação – Comece pelo tema

Vou fazer uma pequena introdução a esse post. Há alguns anos escrevi uma série de textos curtos no formato de dicas rápidas para quem pensa em entrar ou já entrou numa pós-graduação. Esse projeto ficou completamente esquecido e só lembrei porque encontrei um arquivo estranho enquanto fazia um backup do notebook. Lendo novamente percebi que as coisas que havia escrito continuavam fazendo sentido e resolvi postar aqui no blog como uma série de posts.

(editado: postei aqui só algumas dicas e reuni essas e várias outras em um livro (Dicas Rápidas para Sobreviver à pós-graduação) disponível de forma gratuita para quem assina o kindle unlimited ou por R$29,90. Não precisa ter kindle para ler! É possível ler do celular, outro tablet qualquer ou do computador).

São textos curtos sobre coisas que deram certo para mim ou que eu sabendo o que sei hoje teria feito melhor.


Quando eu entrei no mestrado, não era exigido um projeto para começar. Apenas ao final do terceiro trimestre depois de cursar todas as disciplinas que eram obrigatórias que deveríamos ter um projeto para a dissertação. Mas, independentemente da necessidade de ter o projeto no início ou não, acredito que seja interessante ter uma ideia do trabalho que será realizado para ter mais discernimento na escolha das disciplinas que irá cursar. Algumas disciplinas serão obrigatórias e comuns a todos independente do tema de pesquisa, mas, outras disciplinas que investirá o seu tempo devem preferencialmente ser relacionadas ao seu tema.

O objetivo é cursar disciplinas que te proporcionarão a melhor base possível para a resolução do problema proposto. Mesmo que não tenha um projeto formalizado, a dica é: tenha uma ideia clara do tema que tem interesse e converse com professores dessa área no seu programa antes de começar, se possível! Mesmo que não siga à risca um determinado projeto, sabendo o tema desde o início terá ao menos uma base para seguir e fazer ajustes conforme necessário.

Ah, mas eu não tenho ideia de tema… Será? No fundo se está pensando em cursar uma pós-graduação você tem uma ideia do que gostaria de fazer. Mas se realmente não tem ideia nenhuma, não se preocupe. O importante é conversar com possíveis orientadores. Eles terão capacidade de te dizer se a ideia vale a pena ser investigada. Ou possivelmente te apresentar ideias de projeto que eles estão trabalhando que tenham a ver com seu perfil.

Eu tinha uma ideia muito vaga do que gostaria de fazer e não conhecia os professores da instituição (e além disso eu era extremamente tímida). Tive sorte de uma professora me propor trabalhar em um projeto de pesquisa enquanto eu ainda cursava as disciplinas. Nesse projeto acabei saindo da minha ideia inicial mas foi ótimo e aprendi demais! E tive contato com outro professor que viria a ser meu orientador de doutorado em outro tema que tinha mais a ver com minha ideia inicial. Mas isso é assunto pra outro post.

Se está lendo antes da pós-graduação: aproveite o tempo que tiver disponível para pensar no seu tema/projeto. Converse com possível/eis orientador/es e trace pelo menos uma linha geral e quais disciplinas são realmente úteis para a solução do problema proposto.

Se está lendo durante a pós-graduação: Espero que já tenha orientador/es e projeto definido, senão procure o quanto antes possível/eis orientador/es e converse com eles a respeito. E converse também com os colegas sobre o assunto. Eles já tem tema definido? Como fizeram?

Se está lendo depois: Faria uma recomendação diferente? Deixe um comentário! Se acredita que essa dica é útil, envie para alguém que está começando 😉


Obs: eu tinha escrito os textos pensando em pós-graduação stricto sensu. Mas para quem está fazendo ou pensa em fazer uma especialização lato sensu a dica muda pouco. O curso de especialização geralmente já possui todos os módulos pré-definidos e, portanto a ideia de escolher disciplinas de acordo com o tema não se aplica. No entanto, ter uma ideia de tema desde o início continua sendo interessante para saber quais professores pode procurar para orientarem a monografia.


Para quem preferir fiz um video baseado nesse texto! 🙂 Me falem se gostaram do formato!

Como mantenho a motivação em 2020?

cappuccino

Espero que esse título não soe como uma armadilha e crie expectativas excessivas. Antes de continuar, gostaria de deixar claro que estou longe de ser a pessoa mais motivada do mundo! Mas se a falta de motivação é algo que te incomoda, acompanhe este raciocínio comigo. Se você já é super motivado deixe um comentário ou dica de post, livro, vídeo etc.

Escrevi recentemente sobre saúde mental pois estava passando por um momento de cansaço. Não cansaço físico mas mental mesmo. E percebi que estava ficando cada vez mais difícil ter vontade de fazer as atividades básicas do dia a dia.

Há algumas semanas coloquei uma série de ações em prática e pude observar a diferença que fez na minha rotina. Por isso, achei que seria um bom momento para escrever sobre esse tema. E, gostaria de deixar um espaço para que mais pessoas escrevam também o que funciona para elas.

A primeira coisa que precisa ficar claro é que não pretendo compartilhar uma fórmula mágica que funciona para todo mundo. A busca por isso só serve para nos deixar cada vez mais frustrados. Ah! Mas funcionou para fulano, por que nao funciona pra mim? Quantas vezes me senti mal com isso… estou escrevendo sobre algo que observei que funcionou para mim, na realidade que estou passando nesse momento.

É importante dizer também que não acordo motivada todos os dias. E que continuo tendo dias em que me sinto desanimada e cansada. E acho que está tudo bem se sentir assim de vez em quando. O importante é saber perceber isso e agir de acordo. Nesses dias eu me permito ir mais devagar. Se eu estiver muito cansada eu descanso e compenso em outro momento.

Para ter uma rotina que funciona, precisamos primeiro nos conhecer. E entender o tipo de incentivo que funciona. Pode ser que, assim como eu, na maior parte da vida tenha esperado que a motivação para alcançar os objetivos ou simplesmente concluir as atividades viesse de fora (boletos chegando, prazo de evento/revista chegando, orientador te cobrando resultados…).

Claro que tudo isso oferece um incentivo mas, se manter a motivação já era um desafio antes de 2020, esse ano pode ter se tornado um desafio ainda maior. A necessidade de continuar ainda que o mundo todo estivesse passando por tantos lutos não é algo trivial.

Precisei entender que isso tudo que citei ali acima, que vem de fora, não deveria ser a minha fonte de motivação ou desânimo. A motivação deveria ser interna.

Depois de muitos momentos de reflexão eu entendi que escrever é extremamente importante para mim. Não só artigos, documentação, relatórios etc. Não estou falando de escrever só coisas relacionadas ao trabalho. E também não estou falando só dos hobbies como escrever aqui para o blog, redes sociais, poesias etc. Mas, desde sempre para passar pelo processo de aprendizado eu sempre precisei escrever as coisas no papel. E entendi que ultimamente com a mudança de rotina devido à pandemia, eu tinha mudado esse hábito.

Passei a trabalhar somente de casa com o isolamento que durou 2 meses e depois, passei a fazer revezamento, indo algumas vezes por semana ao laboratório e outras a ficar em casa. Já se passaram 5 meses nesse formato e tudo indica que continuará assim até o final desse pós-doutorado. Com esse revezamento, eu comecei a ter dificuldade de manter uma rotina que funcionasse pra mim nos dois lugares. Por exemplo, eu uso (também) agenda de papel. E escrevo nessa agenda de papel as principais atividades de cada dia. Com essa mudança de rotina nem sempre eu transportava a agenda comigo. Às vezes deixava uma agenda em casa e outra na mesa do laboratório. Com isso fui vendo pouco a pouco minha organização (e também a motivação) ir embora. Comecei a me sentir improdutiva e com dificuldade de terminar as tarefas.

Só quando entendi que um dos problemas era esse que pude pensar em uma solução. Eu tinha um bloco de post-its que estava inutilizado. Voltei a usar os post-its, e criei o compromisso de carregar sempre a mesma agenda comigo. Ao invés de colar os post-its no lab como costumava fazer, comecei a colar na agenda. Assim tenho um incentivo colorido bem visual e pontual de coisas que preciso fazer a cada dia da semana.

Não lembro quando comecei mas há muitos anos tenho o hábito de escrever as coisas que preciso fazer em uma agenda (durante o doutorado usava um caderno de rascunho pra tudo e funcionava como uma agenda também). Ultimamente percebi que ao não escrever as tarefas eu não as concluo com a mesma eficiência. Eu continuo fazendo o que preciso, mas de forma pouco organizada e pouco produtiva que atrapalha outros setores da minha vida.

Com a falta de organização eu não tinha vontade de fazer as tarefas do trabalho, de ler artigos, fazer as reuniões, escrever, programar o código que precisava etc. E muito menos de cuidar da saúde. Não tenho tempo! Era isso que eu dizia pra mim mesma. Não consigo fazer mais nada, já estou sobrecarregada com todas as tarefas que tenho ao ficar alguns dias da semana em casa. Essa parte realmente é importante comentar também. Como passo mais tempo em casa, tenho que fazer uma série de coisas que não faço quando passo o dia todo no laboratório e almoço no restaurante do hospital. Em casa, tenho que pensar em todas as refeições, preparar e lavar e isso toma mais tempo, é fato. Gera mais sobrecarga mental sim. Não posso esquecer disso na hora que preparo a agenda.

Dito tudo isso, aprendi a não colocar muitas metas grandes por dia na agenda! No máximo uma ação maior que preciso terminar a cada dia. E me permito escrever na agenda em torno de três ações menores por dia. Tudo que fizer além disso considero lucro. (Se para você parece pouco, ajuste para a sua realidade. Estou dizendo o que funciona para mim na minha rotina de trabalho – e acho que li isso em algum lugar, se lembrar adiciono a referência depois). Vai por mim que não é pouco. E penso que é melhor concluir 3 coisas por dia do que nenhuma…

Um exemplo mais prático: se preciso entregar um código ou um resultado até sexta, na sexta tenho essa meta grande de entregar o trabalho todo e, a cada dia que antecede tenho como meta uma parte que organizo de acordo com meu conhecimento do que precisa ser feito. Costumo quebrar ainda essa atividade principal do dia em mini-atividades . Dividir para conquistar funciona bem para mim. Além disso, todas as outras atividades importantes como atualizar a documentação, escrever relatório e artigo vão para a agenda em papel. Tento dividir todas as atividades durante a semana colocando a mais urgente como principal e tentando não passar muito de 3 atividades por dia. A sensação de “tickar” da agenda me dá muita satisfação e sinto que o trabalho está avançando. E essa ação de escrever no papel me ajuda a me organizar melhor mentalmente e focar naquela ação que precisa da minha atenção.

Acho que isso tudo começou há muitos anos quando percebi como me distraio facilmente. Se eu não colocar em foco as coisas que precisam da minha atenção eu me perco totalmente.

Talvez você não precise dessa etapa de colocar no papel. Durante um tempo eu colocava tudo num calendário online com os lembretes das atividades que preciso fazer. Pode ser que um tempinho no domingo ou na segunda de manhã para organizar as tarefas da semana no calendário seja suficiente. E claro, olhar esse calendário todos os dias. A ideia é ter algo visual que consulte com frequência.

Ao passar um tempo sem organizar minhas atividades no calendário/agenda a sensação que eu tinha era que eu não estava fazendo nada (mesmo quando obviamente estava porque não parei de fazer as coisas). Além de ter essa sensação que não estava conseguindo avançar estava perdendo a vontade de começar a fazer as coisas que eu precisava. Finalmente entendendo o que funciona para mim, foi possível sentir essa vontade de novo que eu já estava achando que não voltaria! Ah! Como sou dramática gente… Mas é sério, concluir atividades para mim me faz com que me sinta útil, e, com isso, tenho vontade de continuar fazendo as coisas que preciso.

Obs: no calendário online tenho todas as aulas e reuniões agendadas e não considero reuniões nem aulas como atividades que entram naquela conta das 3 coisas por dia, só para deixar claro. Mas preparar aula e corrigir tarefas contam como atividades do dia porque uso essa estratégia para organizar meus prazos. Não sei se vai funcionar pra sempre assim, pode ser que precise ajustar depois. Mas achei essa reflexão interessante para pensar no que funciona de acordo com a rotina que temos hoje.

Se eu puder fazer um resumo das coisas que me ajudam a me manter motivada, seria:

1 – Acordar fazendo uma mentalização positiva; preciso desse lembrete diário de quem sou e qual meu propósito.

2 – Café ou chá.

3 – Conferir na agenda o que planejei e ajustar de acordo para não me sentir sobrecarregada;

4 – Tickar as atividades concluídas da agenda;

5 – Escolher o tipo de informação que consumo! Tento estar sempre atenta aos perfis que sigo nas redes sociais e o tipo de notícia que consumo. Não pretendo me alienar, mas no início da pandemia foi muito difícil acompanhar todas as notícias diárias e precisei me afastar um pouco para não desanimar demais.


Você sabe o que funciona para >você< se manter motivado?

Dica LaTeX: Alinhamento ambiente enumerate

pedras de diferentes tamanhos em equilíbrio sobre um joelho. Vê-se o mar azul ao fundo.

Seguindo o post anterior com Dicas sobre o uso de números romanos no ambiente enumerate do LaTeX, segue uma dica adicional sobre o alinhamento.

Vamos usar como exemplo uma lista com tópicos e sub-tópicos em três níveis utilizando o ambiente enumerate:

\begin{enumerate}
    \item Primeiro nível da lista;
    \begin{enumerate}
        \item Segundo nível da lista;
        \begin{enumerate}
            \item Terceiro nível da lista;
            \item No mesmo nível só para conferir o alinhamento;
        \end{enumerate}
        \item outro item para conferir alinhamento;
    \end{enumerate}
    \item De volta ao primeiro nível;
\end{enumerate}

Que gera a seguinte saída utilizando por padão arábicos para o primeiro nível, letra minúscula para o segundo e romanos para o terceiro:

Obs: se quiser usar só os algarismos romanos volte ao post anterior.

Para que a lista seja alinhada à esquerda, deve-se adicionar dois comandos antes do início do documento:

\SetLabelAlign{fixedwidth}{\hss\llap{\makebox[2.5em][l]{#1}}}
\setlist[enumerate]{label=\arabic.,leftmargin=0pt,align=fixedwidth}

Que gera a seguinte lista com os números alinhados à esquerda:

O comando setlist define o rótulo a ser usado, e, no exemplo, está definido “arabic”. Caso queira usar os algarismos romanos, basta trocar esse rótulo para \roman (que gera romanos com letra minúscula: i, ii, iii…) ou \Roman (que gera romanos com letra maiúscula: I, II, III…).

Exemplo:

Obs: O rótulo que for adicionado no ambiente conforme visto no outro post, será sobrescrito por esse comando.

Referência:

  1. Pergunta do Stack Exchange (em inglês): https://tex.stackexchange.com/questions/236367/left-aligning-nested-labels-in-enumerate

Dica LaTeX: Listas com números romanos

ruínas romanas com placa escrita lungo corridoio

Da série comecei a escrever isso há anos e deixei como rascunho. Como tive essa dúvida hoje de novo! resolvi salvar por aqui os exemplos que achei. Ao final incluí as principais referências que me ajudaram. Caso tenha dúvidas ou dicas deixe um comentário ao final!

Para fazer uma numeração simples no LaTeX existe o ambiente “enumerate” (lembrando que para listas simples existe o “itemize”).

Exemplo de uso do Enumerate simples:

\begin{enumerate}
    \item primeiro item da lista;
    \item segundo item da lista;
    \item assim por diante \ldots
\end{enumerate}
Screen Shot 2020-09-25 at 13.39.50

No entando, quando precisa, ou prefere, usar números romanos para criar as listas é necessário incluir um pacote para configurar o item da enumeração:

\usepackage{enumitem}

E adicionar um comando opcional com um rótulo ao final da primeira linha (do ambiente enumerate):

\begin{enumerate}[label=\Roman*.]
    \item primeiro item da lista com números romanos;
    \item segundo item da lista com números romanos;
    \item assim por diante \ldots
\end{enumerate}

Resultado:

O rótulo “\Roman” iniciando com a primeira letra maiúscula cria uma lista com romanos maiúsculos. Caso deseje minúsculos use “\roman”. O resto do comando é igual.

Outra coisa que eu precisei, foi criar uma enumeração dentro de outra, exemplo: 1.1, 1.2 ou, no caso, em romanos, I.i, I.ii, etc.

Para isso, é preciso adicionar duas linhas antes do início do documento para indicar que quer usar os rótulos nesse formato:

\renewcommand{\labelenumii}{\theenumii}
\renewcommand{\theenumii}{\theenumi\roman{enumii}.}

Nesse exemplo eu quis usar as numerações em romanos. Mas caso precise fazer o mesmo para números arábicos basta trocar o rótulo para \arabic:

\renewcommand{\labelenumii}{\theenumii}
\renewcommand{\theenumii}{\theenumi\arabic{enumii}.}

Esses exemplos mostram os números alinhados à direita por padrão. Caso queira alinhar à esquerda consulte o próximo post 😉

Referências:

  1. Referência em português para inúmeras questões sobre LaTeX: https://latex.net.br/faq/FAQ-enumerate.html
  2. Referência (em inglês) com exemplos: http://tex.stackexchange.com/questions/26882/roman-numerals-for-sections-and-subsections
  3. Referência (em inglês) com vários exemplos de como usar listas itemize e enumerate no LaTeX https://www.latex-tutorial.com/tutorials/lists/

Sobre saúde mental e vida pós-doutorado

macbook

O texto a seguir é um breve relato da minha experiência pessoal que tive vontade de compartilhar para deixar registrado e não me esquecer com o passar dos anos.


Observação importante: esse texto não pretende ser de forma alguma um aconselhamento. Se sente que precisa de ajuda, procure um profissional.


Logo depois que terminei o doutorado em 2015, passei para uma seleção de pós-doutorado na mesma instituição. A minha intenção era manter a parceria com o co-orientador dos EUA e continuar fazendo pesquisa enquanto não tinha uma posição formal como professora/pesquisadora. Inicialmente a vaga era para 2 anos.

O que eu não sabia era que no final do primeiro ano eu já estaria exausta. Não escrevi sobre isso na época pois não conseguiria olhar de fora como consigo hoje. Na época eu só pensava que não dava mais para continuar e conversei com os envolvidos do programa de pós-graduação e fiz tudo o que eu podia fazer em um ano e pedi para que o contrato não fosse renovado para o segundo ano. (Tenho que agradecer a todos os colegas que entenderam, apoiaram e me ajudaram abrindo espaço para a participação nas suas aulas da pós e permitindo que eu apresentasse um seminário sobre o que eu tinha feito naquele ano.)

Depois de passados 5 anos de tese defendida e 4 desse episódio, consigo entender que eu precisava de um tempo depois de tanta dedicação excessiva à carreira e precisava cuidar da saúde mental.

Na época que encerrei aquele postdoc eu tentei três concursos em duas Universidades Federais distintas e fui reprovada nos três. Responsabilizo meu próprio estado mental por não ter tido sucesso em nenhum deles.

Mais ou menos um mês depois do encerramento do pós-doutorado, pude respirar um pouco e participei de outro processo seletivo, só que para um centro universitário. E dessa vez fui aprovada. Tive a oportunidade de retornar a instituição em que fiz minha graduação, agora como professora. Fui colega dos meus professores! Isso me fez tão bem. Eu diminui por um tempo o ritmo de trabalho e passei a dedicar mais tempo a pessoas amigas e familiares! Isso foi essencial! Quando decidi encerrar o pós-doutorado e abrir mão da bolsa eu não tinha perspectiva de nada. Dei um salto de confiança pois sabia que poderia contar com minhas reservas por um tempo e nem foi necessário pois logo apareceu essa oportunidade.

Dois anos depois, eu tive coragem de participar de um concurso novamente. (Um parênteses é importante aqui. Eu estava feliz como professora no centro universitário. Mas a principal razão de ter feito doutorado foi porque eu buscava estabilidade na carreira de ensino e pesquisa e, para isso meu objetivo era obter aprovação em concurso para uma Universidade ou Instituto Federal.  Eu pausei as tentativas depois de não ter sido aprovada algumas vezes mas, depois de atuar esses dois anos como professora no ensino superior e continuar a ter a certeza que era isso que gostaria de continuar fazendo, recuperei a confiança pra tentar os concursos de novo).

Eu me inscrevi em um concurso em 2018, estudei, e… não fui fazer a prova :/ eu sei, nesse ponto da história eu também achei que iria. Mas no fundo ainda tinha medo da rejeição e de ser reprovada novamente.  Eu não dei muitos detalhes acima, mas um dos processos que eu havia tentado em 2016 eu tinha passado na primeira fase e fui a única a não passar na segunda e, aquilo me abalou muito. Depois entendi que foi melhor não ter passado para aquela área. E descobri também, que tinha uma parte de mim que tinha medo de passar! Sim, de ser aprovada, entendi que eu não queria assinar uma sentença de ter que fazer a mesma coisa o resto da vida! Percebendo que tinha todos esses pensamentos pude racionalizar e ver que conscientemente eu sabia que não era bem assim que as coisas funcionam! Mas precisei contar com ajuda de terapia para entender que havia muitas crenças no subconsciente que me atrapalhavam em vários setores.

Dessa vez eu decidi que não iria apenas tentar. Eu me sentia capaz, me preparei para dar aulas sobre todos os temas do edital, fiz as provas e passei. Fiquei muito feliz com o resultado pois era o que eu queria e estava me preparando há anos!!!

No início de 2019, já como professora 🙂 eu estava pensando em como seria bom expandir os horizontes e fazer novas parcerias. E lá para Abril uma oportunidade apareceu. Foram muitas negociações e burocracia até eu chegar aqui no final do ano para um segundo pós-doutorado. Dessa vez, como sou professora em uma Universidade Federal, de acordo com a legislação posso me afastar por 12 meses para capacitação de pós-doutorado e, portanto, sabia que dessa vez seria só um ano mesmo. O tempo está passando rápido e quando olho para trás me sinto satisfeita com o que consegui fazer até agora nesse projeto e olho pra frente e vejo que ainda tem muito a ser feito.

Dessa vez, faço o pós-doutorado em outro país e, no momento que começo a escrever esse texto, estou me sentindo cansada de novo. Um trabalho novo e, portanto um desafio novo. Apesar de saber que eu tenho o perfil para a vaga e ter tido treinamento e preparação necessários para estar aqui hoje realizando esse trabalho, tenho aprendido muito todos os dias. Preciso estudar muito todos os dias. É um trabalho muito mental. Como o professor orientador daqui sempre diz, nesse tipo de trabalho não cansamos fisicamente mas cansamos muito mentalmente! Estamos sempre estudando e pensando em novas soluções e isso desgasta bastante. Por isso é importante descansar e se distrair também.

Hoje acredito que ficamos cansados, desanimados, porque esquecemos o porque estamos fazendo o que estamos fazendo. E também porque esquecemos que é importante descansar. Estou escrevendo esse texto para lembrar algumas coisas que passei para chegar até aqui. Como eu quis e como foi difícil em vários momentos. Se alguém ainda estiver lendo talvez seja um lembrete para essa reflexão. E no meu caso particularmente um lembrete para comemorar os sucessos pois tenho dificuldade de celebrar as conquistas. Para algumas pessoas essa jornada é mais difícil e para outras mais fácil. Temos que lembrar disso e não esperar que todos sejam iguais e que todos tenham o mesmo desempenho. Simplesmente porque não temos todos a mesma base. Cada pessoa parte de um ponto diferente. Esse é um relato da minha experiência pessoal e do meu estado mental e de como eu sinto que esse estado mental influenciou e continua influenciando a minha carreira.

Dessa vez, um ano parece que está passando muito rápido. Ou talvez eu esteja num estado mental melhor. Dessa vez estou feliz. Cansada e feliz.


Se tiver interesse em estudos sobre influência da saúde mental no trabalho em geral e também mais especificamente na área acadêmica, seguem alguns links:

  1. Artigo (em inglês) sobre saúde mental na área acadêmica que comenta entre outras coisas sobre o estigma de se falar sobre saúde mental: https://doi.org/10.36866/pn.115.32
  2. Artigo (em inglês) que comenta que desde 2019 a OMS reconhece a síndrome de burnout como fenômeno ocupacional e da importância de “desestigmatizar” o assunto na área acadêmica: https://www.wiley.com/network/archive/how-do-we-address-the-state-of-mental-health-in-academia
  3. Artigo (em inglês) que mostra como a saúde mental pode ser causa de desemprego de forma geral, esse não é específico sobre a área acadêmica: https://dx.doi.org/10.1186%2F1471-244X-13-144
  4. Levantamento de fatores de estresse na UFLA (em português): https://www.researchgate.net/publication/311066049_FATORES_DE_ESTRESSE_DOS_ALUNOS_NA_POS-GRADUACAO_DA_UFLA

Se souber de mais referências interessantes em português (vídeos também) pode enviar comentário que adiciono à lista 🙂


Ps: Quando comecei a escrever esse texto não sabia porque resolvi fazê-lo justo hoje mas, depois descobri que comecei a escrever no dia 08 de Julho, dia nacional da Ciência no Brasil então aproveito para fazer um agradecimento a todos que fazem ciência no nosso país em todas as áreas.


Outro Ps: Esse ano está tudo muito diferente, passei por dois meses de total isolamento na Itália, mantendo a rotina de trabalho de casa. Nesse momento em que escrevo, as Universidades daqui estão começando a reabrir as portas e o primeiro semestre foi de aulas on-line. Como o laboratório que fico alocada é dentro de um centro de pesquisa de um hospital já voltamos a trabalhar presencialmente adotando todas as medidas de segurança e distanciamento desde a segunda quinzena de Maio e agora observo de longe as decisões (e muitas vezes a falta delas) no Brasil. No dia de hoje não sei qual o cenário que me espera na minha instituição quando eu retornar. Mas sei que estou com saudades de todos e pronta para o que estiver me esperando.